Por Mariene Hildebrando
Não pensamos muito nisso. Na impermanência de tudo. Em
como tudo muda o tempo todo. Em como as mudanças acontecem às vezes de forma inesperada e nos atropela
como se fosse um trem, passando por cima sem dó nem piedade. Mas às vezes nos
levando rumo a felicidade, mudando nossa vida de maneira maravilhosa. Fato é
que as mudanças às vezes são precedidas de uma insatisfação. Às vezes nossa
existência parece perfeita, tudo como tem que ser, e chega a morte e nos leva
alguém querido, que amamos, e não conseguimos imaginar nossa existência sem
aquela pessoa. Quanto à morte nada pode
ser feito, ou então nos apaixonamos perdidamente por alguém que vai transformar
nossa vida completamente, ou mudamos de cidade, de país. A chegada de um filho,
o fim de um relacionamento, um novo emprego... A vida é feita de mudanças, e
aquele que não entende isso sofre mais do que aquele que entende que tudo é impermanente.
A felicidade e a infelicidade também. Nada dura para sempre da mesma maneira.
Só assim para haver evolução. O crescimento interno acontece na medida em que
aproveitamos nossas experiências. Temos que ser meio camaleônicos e nos adaptar,
ou então, mudar tudo de novo e nos rebelar. Ninguém consegue ficar parado.
Mesmo quando fingimos não ver as mudanças chegando ou pedindo passagem, o
universo se encarrega de nos fazer enxergar, e de nos fazer agir. Não
conseguimos deter a nossa evolução, apenas retardá-la. Quando não deixamos
fluir, levamos um susto do universo, que nos faz tomar uma posição e nos faz
sair da estagnação. Estamos sempre nos reinventando. Encerrando ciclos,
começando novos ciclos. É importante compreendermos que as mudanças são
necessárias, que a impermanência faz parte da nossa existência. Situações
desagradáveis não irão durar para sempre e vice versa. Temos o momento
presente. Cultivar o desapego faz parte
desse crescimento. Situações e pessoas
são importantes, mas tudo vem e vai. Quando aceitamos o desapego e a
impermanência, nos encaminhamos para conseguir a paz tão almejada segundo os
budistas. Desenvolvemos-nos através da impermanência. Passamos pela infância,
adolescência fase adulta e nos tornamos velhos. As estações mudam. Não temos
verão para sempre, nem inverno para sempre, não somos os mesmos sempre, nos
recriamos e nos adaptamos, nos renovamos, e isso faz parte do ciclo da vida. Etapas se findam para que novas comecem.
Ciclos, a vida é feita disso. Encontros, pessoas que
fazem parte da nossa história em algum momento, situações que vivenciamos e
experimentamos, boas ou más, para o bem
ou para o mal, em algum momento irão fazer parte da nossa existência, nos
ajudaram a evoluir, nos transformarão, outras vão nos completar e preencher a
nossa existência e não iremos querer que aquilo passe. Mas passa. Superamos e
nos transformamos, porque somos assim, impermanentes. Nossas crenças que
pareciam ser para sempre, mudam. Estamos sempre nos adaptando, mudando a
direção. Devemos encarar essas mudanças como novas oportunidades, como algo
natural que faz parte da nossa existência. Virar a página para algumas
circunstâncias , situações e pessoas não significa que fomos derrotados, isso é
o que parece num primeiro momento, e existe uma inutilidade nesse sentimento
que não nos leva a lugar nenhum. Perceber o quanto somos capazes de nos
reerguer, de aprender, e de nos reconstruirmos e recriar nossa existência,
nossa vida. Basta ter um novo olhar, sermos menos críticos e mais amorosos com
a gente. Para alguns é mais difícil que
para outros. Tem pessoas que se comprazem na dor, acostumados que estão a ela.
Tem gente que não aceita que nada dura para sempre, e que encara as mudanças
como castigo. Nossa vida é passageira, nós também somos, e, fazendo um trocadilho com a palavra
passageiros...somos passageiros porque nossa existência é breve, somos
passageiros como viajantes dessa nave que se chama planeta terra, então vamos
tirar o máximo proveito dessa aventura humana. Nossa alma está aqui ocupando um
corpo justamente para progredir e aprender. É na impermanência das coisas que
eu tenho oportunidade de crescer. Não há
nada que não mude o tempo todo. Hoje podemos estar apaixonados por alguém e não
imaginarmos nossa vida sem essa pessoa, amanhã podemos nem querer ver mais...
Nossos pensamentos mudam a todo instante, nosso humor,
nossas emoções, momentos felizes, momentos de dor. Como lidar com essa
impermanência toda? Entendendo que não temos controle sobre nada. Não queremos
morrer, mas vai acontecer um dia. Não temos controle, apenas a falsa sensação
de que estamos no controle de tudo. O quanto antes aceitarmos que tudo pode
mudar em questão de segundos, mais felizes seremos, sofreremos menos.
Evitaremos conflitos desnecessários, podemos não estar vivos amanhã. A
impermanência está, simplesmente assim. Se resistimos a ela, interrompemos o
fluxo natural das coisas. É preciso deixar um ciclo acabar para que outro possa
começar. Não é fácil passarmos de uma situação que nos agrada para outra
totalmente contrária, aquilo que um dia foi bom, passa de uma hora pra outra a não
ser mais, como disse antes, tudo é impermanente. E como diz Eckhart
Tolle, em “Praticando o Poder do Agora”
“...a felicidade e a infelicidade
são, na verdade, uma coisa só. Somente a ilusão do tempo as separa. Não
oferecer resistência à vida é estar em estado de graça, de descanso e de luz.
Nesse estado, nada depende de as coisas serem boas ou ruins
Professora e
especialista em Direitos Humanos
Email:
marihfreitas@hotmail.com
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