domingo, 1 de novembro de 2015

A Impermanência de tudo

 Por Mariene Hildebrando
            Não pensamos muito nisso. Na impermanência de tudo. Em como tudo muda o tempo todo. Em como as mudanças acontecem  às vezes de forma inesperada e nos atropela como se fosse um trem, passando por cima sem dó nem piedade. Mas às vezes nos levando rumo a felicidade, mudando nossa vida de maneira maravilhosa. Fato é que as mudanças às vezes são precedidas de uma insatisfação. Às vezes nossa existência parece perfeita, tudo como tem que ser, e chega a morte e nos leva alguém querido, que amamos, e não conseguimos imaginar nossa existência sem aquela pessoa.   Quanto à morte nada pode ser feito, ou então nos apaixonamos perdidamente por alguém que vai transformar nossa vida completamente, ou mudamos de cidade, de país. A chegada de um filho, o fim de um relacionamento, um novo emprego... A vida é feita de mudanças, e aquele que não entende isso sofre mais do que aquele que entende que tudo é impermanente. A felicidade e a infelicidade também. Nada dura para sempre da mesma maneira. Só assim para haver evolução. O crescimento interno acontece na medida em que aproveitamos nossas experiências. Temos que ser meio camaleônicos e nos adaptar, ou então, mudar tudo de novo e nos rebelar. Ninguém consegue ficar parado. Mesmo quando fingimos não ver as mudanças chegando ou pedindo passagem, o universo se encarrega de nos fazer enxergar, e de nos fazer agir. Não conseguimos deter a nossa evolução, apenas retardá-la. Quando não deixamos fluir, levamos um susto do universo, que nos faz tomar uma posição e nos faz sair da estagnação. Estamos sempre nos reinventando. Encerrando ciclos, começando novos ciclos. É importante compreendermos que as mudanças são necessárias, que a impermanência faz parte da nossa existência. Situações desagradáveis não irão durar para sempre e vice versa. Temos o momento presente. Cultivar o desapego  faz parte desse crescimento. Situações e  pessoas são importantes, mas tudo vem e vai. Quando aceitamos o desapego e a impermanência, nos encaminhamos para conseguir a paz tão almejada segundo os budistas. Desenvolvemos-nos através da impermanência. Passamos pela infância, adolescência fase adulta e nos tornamos velhos. As estações mudam. Não temos verão para sempre, nem inverno para sempre, não somos os mesmos sempre, nos recriamos e nos adaptamos, nos renovamos, e isso faz parte do ciclo da vida.  Etapas se findam para que novas comecem.
            Ciclos, a vida é feita disso. Encontros, pessoas que fazem parte da nossa história em algum momento, situações que vivenciamos e experimentamos,  boas ou más, para o bem ou para o mal, em algum momento irão fazer parte da nossa existência, nos ajudaram a evoluir, nos transformarão, outras vão nos completar e preencher a nossa existência e não iremos querer que aquilo passe. Mas passa. Superamos e nos transformamos, porque somos assim, impermanentes. Nossas crenças que pareciam ser para sempre, mudam. Estamos sempre nos adaptando, mudando a direção. Devemos encarar essas mudanças como novas oportunidades, como algo natural que faz parte da nossa existência. Virar a página para algumas circunstâncias , situações e pessoas não significa que fomos derrotados, isso é o que parece num primeiro momento, e existe uma inutilidade nesse sentimento que não nos leva a lugar nenhum. Perceber o quanto somos capazes de nos reerguer, de aprender, e de nos reconstruirmos e recriar nossa existência, nossa vida. Basta ter um novo olhar, sermos menos críticos e mais amorosos com a gente. Para alguns  é mais difícil que para outros. Tem pessoas que se comprazem na dor, acostumados que estão a ela. Tem gente que não aceita que nada dura para sempre, e que encara as mudanças como castigo. Nossa vida é passageira, nós também  somos, e, fazendo um trocadilho com a palavra passageiros...somos passageiros porque nossa existência é breve, somos passageiros como viajantes dessa nave que se chama planeta terra, então vamos tirar o máximo proveito dessa aventura humana. Nossa alma está aqui ocupando um corpo justamente para progredir e aprender. É na impermanência das coisas que eu tenho oportunidade de crescer.  Não há nada que não mude o tempo todo. Hoje podemos estar apaixonados por alguém e não imaginarmos nossa vida sem essa pessoa, amanhã podemos nem querer ver mais...
            Nossos pensamentos mudam a todo instante, nosso humor, nossas emoções, momentos felizes, momentos de dor. Como lidar com essa impermanência toda? Entendendo que não temos controle sobre nada. Não queremos morrer, mas vai acontecer um dia. Não temos controle, apenas a falsa sensação de que estamos no controle de tudo. O quanto antes aceitarmos que tudo pode mudar em questão de segundos, mais felizes seremos, sofreremos menos. Evitaremos conflitos desnecessários, podemos não estar vivos amanhã. A impermanência está, simplesmente assim. Se resistimos a ela, interrompemos o fluxo natural das coisas. É preciso deixar um ciclo acabar para que outro possa começar. Não é fácil passarmos de uma situação que nos agrada para outra totalmente contrária, aquilo que um dia foi bom, passa de uma hora pra outra a não ser mais, como disse antes, tudo é impermanente. E como diz  Eckhart Tolle,  em “Praticando o Poder do Agora”
“...a felicidade e a infelicidade são, na verdade, uma coisa só. Somente a ilusão do tempo as separa. Não oferecer resistência à vida é estar em estado de graça, de descanso e de luz. Nesse estado, nada depende de as coisas serem boas ou ruins

Professora e especialista em Direitos Humanos

Email: marihfreitas@hotmail.com

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