Religiosidade e Direitos Humanos.
Acho que a religião ideal seria a que abrange
tudo.
Não pretendo falar de uma religião em particular, mas sim
de religiões. Em um mundo globalizado, onde os problemas aumentam, são crises
financeiras, crises políticas, guerras, valores ameaçados, o que acaba
acontecendo é que a religião, para muitos, acaba por ser o caminho para a salvação e para a resolução dos problemas, mas a globalização também aproxima as pessoas. Une - nos em torno de causas e lutas comuns.
Lutamos pela justiça e pela paz, contra o preconceito, ajudamos aqueles que
estão sofrendo por catástrofes naturais, ou por quem está no meio de uma
guerra, e nessa hora queremos ser
solidários, independente da religião que praticamos.
Caminhamos para o
sincretismo religioso, quando deixamos as diferenças de lado, as crenças e
doutrinas se fundindo em torno de algo maior como a compaixão e o amor pelo
próximo, como a repulsa pelas desigualdades e a luta por um mundo mais fraterno
e solidário. “Sincretismo", (Houaiss),
é "a fusão de diferentes cultos ou
doutrinas religiosas”. Nesses momentos o que nos move é um sentimento maior
que ultrapassa o tempo, as práticas religiosas e as crenças individuais. É a fraternidade que
nos une. Mas surge a pergunta inevitável: Quanto isso é benéfico para nós?
Quanto o sincretismo religioso pode nos desorientar e nos afastar daquilo que
acreditamos e praticamos dentro da nossa fé, ou quanto ele nos aproxima das
pessoas no momento em que nos une em torno de algo maior? Ele nos enfraquece ou
nos torna mais fortes e tolerantes, orientando nossas ações?
O papa Francisco recentemente se posicionou contra o
sincretismo quando afirmou que: "Um sincretismo conciliador seria, no
fundo, um totalitarismo dos que pretendem conciliar prescindindo de valores que
os transcendem e dos quais não são donos. A verdadeira abertura implica
conservar-se firme nas próprias convicções mais profundas, com uma identidade
clara e feliz, mas disponível para compreender as do outro e sabendo que o
diálogo pode enriquecer a ambos. Não nos serve uma abertura diplomática que
diga sim a tudo para evitar problemas, porque seria um modo de enganar o outro
e negar-lhe o bem que se recebeu como um dom para partilhar com generosidade.” (Evangelii
Gaudium, 251, O diálogo inter- religioso).Compreender e
dialogar somente. ( Ecumenismo)
A verdade é que não tenho respostas para as perguntas que
fiz anteriormente. Sabe-se que as
pessoas que possuem algum credo, alguma religião, são mais felizes, isso
segundo a própria ciência. Tirando algumas exceções, precisamos acreditar na salvação, em algo maior que nós,
que satisfaça nossos anseios espirituais básicos e que nos dê esperança.
Precisamos ter para onde correr, a quem orar, adorar, acreditar. Precisamos
transbordar a nossa fé em algo, em alguém,
ou um Deus. Certamente alguns não concordam com isso. Escolhem não ter
religião. Isso é liberdade religiosa. Mas
voltando aos que professam alguma fé, a pergunta é: Por que algumas pessoas
acham que sua religião ou sua crença é sempre a melhor? Porque alguns brigam por causa disso, são
intolerantes com a fé alheia, a ponto de
morrer defendendo sua crença, pior, á ponto de matar por ela? Não podemos
viver em harmonia com todos, sem achar que a minha escolha é a correta? Com
certeza quando falamos de respeito e tolerância religiosa podemos dar exemplo
ao mundo. Aqui não matamos, nem cometemos outras atrocidades, em nome da
religião.
Somos um país em que a pluralidade religiosa está presente,
em que a mistura de raças, cores e credos, nos torna um país com uma
diversidade cultural e religiosa incrível, onde se procura garantir a igualdade
respeitando as diferenças. O Programa Nacional dos Direitos Humanos possui uma
cartilha –Diversidade Religiosa e Direitos Humanos- elaborado por pessoas de diversos credos, que acreditam
em um mundo melhor. O Brasil como Estado laico deve garantir a liberdade
religiosa de seus cidadãos. Diz o artigo 5º, inciso VI, da Constituição
Federal do Brasil: “É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da
lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.”
A Portaria nº 92, de 24 de janeiro
de 2013, instituiu o Comitê Nacional da Diversidade Religiosa, que tem como
finalidade,” auxiliar a elaboração de políticas de afirmação do direito à
liberdade religiosa, do respeito à diversidade religiosa e da opção de não ter
religião de forma a viabilizar a implementação das ações programáticas
previstas no Plano Nacional de Direitos Humanos”. (Secretaria de
Direitos Humanos da Presidência da República).
A religião ideal
não existe. Ouso dizer que se existisse, conteria um pouco de cada uma. Nossa
plenitude e felicidade independem de seguir esta ou aquela religião, esta ou
aquela doutrina, esta ou aquela crença. Não existe a mais correta. Existe a que me faz
feliz e satisfaz minhas necessidades. Todas tem como base o amor, o respeito ao
próximo, a compaixão, o perdão e outros valores e qualidades que só nos fazem
bem. Os conflitos que muitas vezes são gerados pela religião não acrescentam em
nada para a humanidade.
Seja como for, acreditar em algo, ter fé, exercitar a
espiritualidade, nossas crenças, buscar o que melhor reflete o que pensamos e sentimos só
pode nos fazer bem. Cada um sabe o que é melhor para si, e o que corresponde
aos seus valores. Aquilo que nos tráz paz e conforto, que nos alegra e alivia a
alma. Mas não devemos achar que nossas escolhas são melhores do que a dos
outros. Devemos respeitar toda e qualquer crença e deixarmos a intolerância
para trás. Uma sociedade justa e democrática se constrói em cima do diálogo e
do respeito às diferenças. Somos livres
para pensar diferente, mas esse pensar não pode ser no sentido de discriminar,
de ofender ou usarmos de violência para defender aquilo que acreditamos. Não
importa o nome que damos a ELE, Deus, Alá, Tupã, Javé, Olorum, O Grande
Espírito, A Deusa, Brahman, o Arquiteto do Universo,... No final todos almejam
a mesma coisa, a paz entre os homens, e que nossos direitos básicos sejam
garantidos, e que o principal deles ( o direito a vida) seja preservado e
respeitado.
“Ninguém nasce odiando outra pessoa
pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as
pessoas precisam aprender; e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a
amar.”(Nelson Mandela)
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