sábado, 14 de junho de 2014

Na Copa da educação

JCNET
14/06/14 05:00 -Paulo Cesar Razuk


Um dos grandes problemas da educação no Brasil, sob o ponto de vista da lógica política, é que o retorno social de qualquer investimento nessa área se dará décadas depois: quando a criança se tornar um profissional que contribuirá para o bem-estar do país. O Brasil, com esta miopia de curto prazo que atravessa governos, comete um crime histórico que lesa a nação e gerações de seus filhos.

O descaso com a educação vem de longe, também, em decorrência de um erro de diagnóstico. Acreditava-se que educação, saúde e segurança seriam consequência do desenvolvimento, hoje, no entanto, está mais do que provado que educação, saúde e segurança representam a mola propulsora do desenvolvimento e não o contrário. Isto explica porque a Finlândia, localizada em um espaço geográfico inóspito, é um dos países com maior Índice de Desenvolvimento Humano e uma referência em matéria de tecnologia. Foi o diagnóstico correto que fez dos Estados Unidos uma potência mundial depois de ter enfrentado uma guerra civil no século XIX e essa diretriz continua na fala de Barack Obama: “o futuro pertence à nação que melhor educar seus cidadãos”. Isso explica o “milagre” da Coreia do Sul, país comparável ao Brasil nas décadas de 1960 e 70 e hoje uma nação que nos deixou “comendo poeira”.

Um outro problema que afeta a educação e molda o caráter do país, é um cacoete cultural ultimamente incentivado: se preocupar em reivindicar o cumprimento dos direitos e se esquecer de priorizar o esforço necessário para a criação das riquezas que o país necessita para se desenvolver. Evidentemente, direitos devem ser respeitados, mas eles precisam ser combinados com a valorização do trabalho e o desenvolvimento de uma cultura de superação. Se assim não for, teremos jovens menos dedicados aos estudos e mais interessados em ingressar como cotistas em algum lugar; em vez de adultos querendo progredir, teremos grupos brigando por bolsas; em vez de idosos produtivos, teremos pessoas experientes usufruindo da aposentadoria precoce e da meia entrada. Muitos têm vontade de vencer, mas poucos têm vontade de se preparar para vencer e isso ocorre, também, porque o professor não pode dizer ao aluno: você está reprovado! Com a desvalorização da categoria, não formamos mais professores com poder, competência e preparo suficientes para despertar a curiosidade intelectual dos alunos e transmitir-lhes conhecimento.

Em educação, a posição internacional do Brasil é, simplesmente, constrangedora! Se o Programme for International Student Assessment (PISA) fosse uma Copa do Mundo com 30 times, o Brasil estaria correndo o risco de não participar. Enquanto isso na China há milhões de chinezinhos estudando inglês e em mais alguns poucos anos, haverá duas vezes mais chineses com diploma universitário do que na Europa e nos Estados Unidos juntos. Enquanto no Japão, incentiva-se o estudo das ciências exatas e absorve-se desde cedo a cultura do esforço, no Brasil não se conseguiu nem fazer o mínimo suficiente para aproveitar o período das “vacas gordas” que se iniciou em 2004 com a ascensão do ciclo econômico. Apesar de alguns avanços, em alguns poucos municípios e em raras escolas, o Brasil ainda não conseguiu eliminar seus piores inimigos: a ignorância, o analfabetismo funcional e a desqualificação profissional, por outro lado, cresceu o consumo, as dívidas, a insegurança e as deficiências na saúde. 

Não é possível colher o fruto sem plantar a árvore e nós estamos nesse estágio, precisando plantar muitas árvores.


O autor é professor titular aposentado do Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Engenharia da Unesp - câmpus de Bauru SP.

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